Minha fotografia:
Instantes de luz
Fotografia ocupa Tiradentes, de amanhã a domingo, com Festival Foto em Pauta, que reúne importantes artistas brasileiros em exposições, debates e workshops
Mariana Peixoto - EM Cultura
O fotógrafo Claudio Edinger busca histórias inusitadas que depois reúne em livros
Não mais um olhar para o mundo, mas para si por meio do mundo. É dessa maneira que Eugênio Sávio define a atual geração de fotógrafos brasileiros, com ênfase nos mineiros. Há sete anos, criou o Foto em Pauta, encontro de autores com seu público que reuniu tanto fotógrafos de BH quanto de outros estados. No decorrer dos anos, o projeto se desenvolveu, chegou a ter itinerância (foi realizado em 12 estados em determinado período) e acabou gerando uma rede de discussão entre profissionais e amadores do meio. O caminho natural foi a criação do Festival Foto em Pauta, que começa amanhã, em Tiradentes.
“Um festival serve para formação de público, que começa a entender que uma fotografia de qualidade supera a questão de que uma foto boa é aquela que é boa tecnicamente. Foto boa é aquela que tem o que dizer”, acrescenta o fotógrafo. A programação, que será realizada até domingo, abrange encontros no formato do Foto em Pauta, workshops, projeções e exposições. Entre os convidados estão nomes como J. R. Duran, Bob Wolfenson, Cristiano Mascaro, Márcio Rodrigues, João Castilho, Gustavo Lacerda e Gal Oppido. Há ainda o que vem sendo chamado de Ciclo de Ideias, que vai levar para o centro da discussão temas como retratos, mercado editorial, fotojornalismo e fotografia autoral.
A abertura, na noite de amanhã, no Centro Cultural Yves Alves e no Iphan, será com a 2ª Mostra Mineira de Fotografia, uma coletiva que reúne trabalhos de 100 autores, entre profissionais e amadores. O título vem de uma exposição datada de 1983, no Palácio das Artes. O próprio Sávio, garoto na época, participou do evento. A nova versão tem cinco curadores: Tibério França, Miguel Aun, Guto Muniz, Léo Lara e Elmo Alves. O critério para se inscrever (houve 300 inscrições) foi que os fotógrafos deveriam ter nascido em Minas ou residir no estado há mais de dois anos.
“Na mostra, o mais jovem expositor tem 15 anos e o mais velho, “seu” Wilson Batista, remanescente do Fotoclube Minas Gerais, tem 92”, afirma França. Não há um tema para a exposição. “A única coisa que evitamos foi o nu, para não gerar controvérsias, já que se trata de uma mostra aberta”, acrescenta. Há fotógrafos selecionados para esta coletiva que participaram da primeira, que reuniu 40 fotógrafos há quase 30 anos: Paulo Laborne, Branca de Paula, José Israel Abrantes e Paulo Batista.
Para França, que soma 25 anos de carreira, o que se vê na fotografia mineira dos dias de hoje são diferentes correntes: “Há a fotografia pictorialista, em que autores, como Eustáquio Neves, interferem na imagem; há aquela direta, em que não se mexe em nada, aproveitando inclusive as bordas dos negativos; e há uma corrente nova, de João Castilho, Rodrigo Albert, Pedro David, que poderiam ser chamados fotógrafos expressionistas, que ‘carregam na tinta’. Eles não alteram o que foi visto, mas existe uma interferência na saturação de cores, por exemplo.”
Trabalho recente de um desses fotógrafos será visto na única individual da programação oficial do evento. Pedro David vai apresentar Homem pedra, série de 13 fotografias resultantes de projeto iniciado (e ainda em curso) há três anos no sertão de Pernambuco. “A ideia era fazer uma investigação sobre os resquícios de uma relação íntima do homem com a natureza. Não sei dizer se o que se vê hoje é resquício do que existiu no passado ou do que romantizei”, diz David. O fotógrafo realizou duas viagens à região: a segunda, de dois meses, foi feita com bolsa de residência artística do Salão de Artes Plásticas de Pernambuco.
“De uma maneira geral, projetos de residência são aqueles em que você se fixa num lugar. O meu foi diferente: peguei um carro aqui e fiz a viagem, pois me interessava o percurso inteiro. Tanto que somente no sexto dia cheguei a Pernambuco”, explica David. Da série de 13 fotos (em grande formato, em papel de algodão com pigmentos naturais), três foram tiradas no caminho, na Bahia. A exposição conta também com instalação audiovisual, em que o vídeo Birutas será projetado em pedra de amolar faca adquirida no sertão pernambucano.
Trabalho da série Homem pedra, de Pedro David, realizado no Nordeste
Loucuras
Fotógrafo que abriu o Foto em Pauta em 2004, o carioca Cláudio Edinger vai a Tiradentes participar de bate-papo com o público e também ministrar workshop. O tema é a produção de livros fotográficos – ele é o autor de 13 obras do gênero. “Num livro, a gente pode se aprofundar num assunto até o limite”, afirma Edinger, que já lançou trabalhos sobre o Hotel Chelsea, em Nova York, as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Havana, entre outros.
“Todos os meus livros têm a ver com a minha história, tanto num asilo de loucos, quanto num hotel muito louco, quanto numa ilha muita louca (Cuba) ou de uma festa doida (carnaval). Seja onde for, no fim o fotógrafo anda caçando suas próprias loucuras por meio de imagens, para ver se encontra a chave”, diz Edinger, atualmente envolvido em projetos no sertão baiano, Amazônia, Paris, Los Angeles e Santa Catarina. “É um barato fazer coisas tão diferentes ao mesmo tempo, pois o que aprendo em Paris serve para a Bahia e assim por diante. Nunca tinha feito isso antes e está sendo um grande aprendizado”, finaliza.
PROGRAMAÇÃO
Exposições
• 2ª Mostra Mineira de Fotografia – Coletiva de 100 autores (Centro Cultural Yves Alves e Iphan)
. Homem pedra – Pedro David (Marcenaria Tiradentes)
Encontros e debates
• Amanhã
20h30 – Abertura da Mostra Mineira de Fotografia
• Quinta-feira
18h30 – Ciclo de ideias – Retrato: Complexidade e troca (Clício, Cristiano Mascaro e Gal Oppido)
20h30 – Foto em Pauta (Cláudio Edinger)
• Sexta-feira
17h15 – Foto em pauta (Márcio Rodrigues)
18h30 – Ciclo de ideias – Por um fotojornalismo que se anuncia (Sérgio Moraes, Alexandre Sassaki, Cláudio Versiani e Kátia Lombardi)
20h – Imagens do Fotojornalismo 2010 (Reuters, France Press e O Globo)
• Sábado
10h30 – Ciclo de ideias – Fotolivros: Memória contida (Valdemir Cunha, Iatã Cannabrava e Alexandre Belém)
11h30 – Um olhar sobre a fotografia carioca (Patrícia Gouvêa)
16h – Reunião do Fórum da Fotografia Autoral de Minas Gerais
17h15 – Foto em pauta (Gustavo Lacerda)
18h30 – Ciclo de ideias – Autores; Reverberações e tempos (João Castilho, Pedro David e Pedro Motta)
19h – Lançamento do livro Tiradentes: Um olhar para dentro (Cristiano Mascaro e Humberto Werneck)
20h30 – Revistas de fotógrafos, com Bob Wolfenson e J. R. Duran, entrevistados por Alexandre Belém e Marília Scalzo
• Domingo
10h – Mostra dos alunos dos workshops
Workshops
• Bob Wolfenson (Encontro com o autor): R$ 400 (sexta)
• Cláudio Edinger (O trabalho autoral e a produção de livros fotográficos): R$ 400 (sexta)
• Clício (Gerenciamento de cores e fluxo de pré-impressão para fotógrafos): R$ 500 (quinta e sexta)
• Coletivo Garapa (O ensaio autoral: da exibição on-line à parede da galeria. Novos rumos e formatos para a fotografia) – R$ 400 (quinta e sexta)
• Cristiano Mascaro (Encontro com o autor): R$ 400 (quinta e sexta)
• Cristiano Xavier e Jorge Santos (Na luz da noite, workshop de fotografia noturna) – R$ 220 (quinta a sábado)
• Gal Oppido (Quem com luz fere com luz será ferido) – R$ 400 (quinta a sábado)
• Guto Muniz (A fotografia nas artes cênicas) – R$ 300 (quinta a sábado)
• João Castilho (A fotografia como prática artística contemporânea) – R$ 400 (quinta e sexta)
• João Marcos Rosa (Documentários fotográficos ambientais em foco) – R$ 300 (quinta a sábado)
• Valdemir Cunha (Fotografia de viagem e edição de imagens) – R$ 400 (quinta e sexta)
FESTIVAL FOTO EM PAUTA
De amanhã a domingo, no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes. A programação, à exceção dos workshops, tem entrada franca. Informações: www.fotoempauta.com.br/festival
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