Texto da Revista STUDIUM - Revista eletrônica da UNICAMP sobre fotografia
A fotografia subjetiva e a moderna fotografia:
(Celso Guimarães – Revista STUDIUM –UNICAMP)
O filósofo Merleau-Ponty escreveu que nossos olhos são mais receptores para as luzes, as cores e as linhas: processadores do mundo que têm o dom do visível.
Nos últimos anos, vive-se um delírio em torno do status da imagem, seja em cinema, televisão, fotografia ou na cultura em geral. O homem está vivendo muito mais da imagem do que se servindo delas.
Diferentes autores como, por exemplo, Vilém Flusser (1983), consideram que, nos dias de hoje, há uma idolatria das imagens em detrimento de seus significados. Essa imagicização obscurece os objetivos para os quais foram produzidas. Por outro lado, o homem está deslumbrado com a imagem técnica, porém não pelo seu lado emancipador social, mas pelo lado vulgar, corriqueiro. Do homem de Lascaux até os nossos dias, a imagem "jamais celebra outro enigma senão o da visibilidade", como escreve Merleau-Ponty (2004;20), entretanto, ao inventar a imagem técnica, sua interlocutora do conhecimento científico-artístico-político, o homem criou o seu veículo, o apparatus ou aparelho[1]. Em uma visão ontológica, aparelhos, pode-se dizer que são os "(...) objetos trazidos da natureza para o homem" (Flusser,1983;25). O conjunto deles objetiva a cultura na qual se situam os instrumentos.
No início, os instrumentos eram prolongamentos dos órgãos do corpo e, depois da revolução industrial, passaram a ser técnicos, viraram máquinas, invertendo a sua posição de variáveis para relativamente constantes e a maioria das pessoas passou a viver em função delas, sendo que só uma minoria as possui em uma visão sócio-política.
O aparelho fotográfico - instrumento - pertence à categoria na qual os seus significados de trabalho não mais se moldam à visão tradicional do trabalho - fabril. Na fotografia não se trabalha, se age. Seus resultados são mensagens, informações não consumíveis, mas sim para serem lidas, contempladas, analisadas, referências futuras de decisões, entre outros. São atitudes apropriadas à cultura pós-industrial, em que sua atividade é "produzir, manipular e armazenar símbolos e é exercida por aparelhos", como descreve o filósofo.
Nos dias de hoje, os “aparelhos fotográficos”, a manipulação e o armazenamento da imagem ganharam novos aliados que democratizaram o estado da arte numa progressão alucinante. Obviamente, o vulgar e os populares participam desse mundo da ação. Diga-se de passagem que não há neste comentário nenhum preconceito. O hábito do uso da imagem amplia o grupo de pessoas que antes eram impossibilitadas de usar o seu poder de apreender e de ampliar aquilo que vale a pena ser olhado, como uma gramática do ver. (...)
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